O plantio do milho mal começou e lá está ela: a cigarrinha do milho. Ainda nos primeiros dias, após emergir a planta, o inseto de menos de 1 centímetro, marca presença indesejável.
O Integrada News conversou com o engenheiro agrônomo, desenvolvedor de mercado e consultor Paulo Roberto Garollo sobre os impactos negativos da cigarrinha não só na cultura do milho, mas também da soja.
Como identificar a cigarrinha do milho?
Garollo – O produtor bate o olho e já reconhece o inseto. A cigarrinha tem uma cor branco-palha ou acinzentada e tamanho de menos de um centímetro, e, apesar de muito pequena, é bem visível na folha verde da planta. A cigarrinha Dalbulus Maidis se alimenta da seiva da planta do milho e são portadores de Mollicutes, microrganismos que infectam a planta, causando doenças conhecidas por Enfezamento.
Quais são as consequências do enfezamento nas plantações?
Garollo – São doenças que impactam diretamente no desenvolvimento da planta. A Herbivoria da cigarrinha, ou seja, o ato dela se alimentar da seiva da planta, é baixa, não causa um estrago significativo. Porém, como inseto vetor, ela se torna uma das principais pragas da cultura do milho. A cigarrinha é responsável por transmitir bactérias, que causam o enfezamento pálido e o enfezamento vermelho, e o vírus do Rayado Fino, causador da doença da Risca. A planta infectada fica enfraquecida, apresentando uma descoloração nas folhas ou tons avermelhados, além de espigas pequenas com pouco ou nenhum grão. A produtividade pode ter até 70% de dano direto, além dos danos indiretos por conta de fungos e quebramento do colmo. Em muitos casos, podem estar presentes todas as doenças numa mesma planta ou espalhadas numa mesma área. Aí os danos diretos são devastadores.
O clima e a temperatura influenciam na incidência da cigarrinha na lavoura?
Garollo – Todo processo biológico da praga, os mecanismos de aquisição e inoculação dos agentes causais das doenças, como o enfezamento, são altamente influenciados por temperatura. Por conta disso, a tendência de ocorrência é maior em regiões e em épocas de temperaturas diurnas entre 26 e 30 graus. Em épocas de inverno, a incidência diminui um pouco, mas nada que seja relevante. Nem mesmo a ocorrência de geada elimina a cigarrinha por completo. No Brasil todo pode ocorrer a incidência do inseto. O único estado onde não se tem registro da cigarrinha é no Rio Grande do sul, talvez pela condição términa.
Algo importante para o agricultor é a eliminação das plantas de milho nas lavouras de soja. Poderia explicar quais são as consequências da cigarrinha na soja?
Garollo – Sim, o milho tiguera é aquele que permanece após a colheita, e cresce de maneira isolada entre a lavoura da soja. Estas plantas voluntárias atraem a cigarrinha da mesma forma e aí se inicia uma competição pelos recursos de nutrientes com a soja, e o impacto econômico é relevante. Sem falar que essa planta de milho é uma ponte para a continuidade do ciclo da cigarrinha. Para realizar a quebra do ciclo da doença é fundamental que exista o controle do milho voluntário.
Quais são as formas de controlar a cigarrinha do milho?
Garollo – É preciso seguir um conjunto de boas práticas, começando com o controle do milho tiguera. Segundo o tratamento das sementes, promovendo uma proteção incial com inseticidas registrados no Ministério da Agricultura para praga alvo com dose de recomendação. O terceiro passo é o monitoramento da praga logo após a emergência da cultura, com foco nos estágios V1 até V8, ou seja, da primeira folha até a oitava. Se existir a presença do inseto, o recomendado é entrar com o inseticida, nas doses recomendadas. O apoio de produtos biológicos também é indicado. Atualmente, produtos com o fungo Beauveria Bassiana têm a liberação para uso nas lavouras brasileiras e é eficaz quando utilizado em conjunto com os produtos químicos com indicação do fabricante. A questão genética também faz parte do manejo. Quando possível é indicada a utilização de híbridos com melhor tolerância às doenças do completo de enfezamento. Todas essas medidas são eficazes no controle da cigarrinha do milho, fundamental para a sanidade da lavoura, assegurando a máxima produtividade.