O Paraná sofreu três episódios de geada, em cerca de um mês. No último, geou duas madrugadas seguidas, por isso há quem considere 4 geadas em um mês.
Os eventos aconteceram em diferentes intensidades, mas as mudas com até seis meses são mais frágeis e, por essa razão, em todas as ocorrências foi preciso enterrar as plantinhas, para protegê-las. Independente da severidade da geada, o risco de morte é praticamente confirmado nesse estágio.
Passada a última onda de frio polar, fica a dúvida: desenterrar as plantas, mais uma vez, ou aguardar a próxima previsão do tempo?
A tradicional resposta correta é fazer o enterrio total das mudas a cada anúncio de geada e, passado o perigo, desenterrar, uma por uma.
Por outro lado, o custo com mão de obra para executar essa manobra 3 vezes dentro de 30 dias, como foi o caso, representou uma preocupação para o cafeicultor.
Conforme o agrônomo da área de café da Integrada, Márcio Garcia, os cooperados fizeram o enterrio no primeiro anúncio de geada, no final do mês de junho. E, desenterraram após a massa polar se afastar.
Quando a segunda massa fria atingiu o estado, na metade de julho, eles voltaram a enterrar as mudas com até seis meses. A partir desse segundo evento, alguns desenterraram, outros optaram por manter as mudas sob o amontoado de solo. “Algumas mudas ficaram mais de 30 dias cobertas. Eu percorri essas propriedades, para avaliar a sanidade, observando o vigor, a coloração e outros aspectos das mudas. A maioria permanece viável”, informou Márcio.
O agrônomo observou que, quando ocorrem geadas em intervalos tão curtos, o cafeicultor fica sem saída. “Alguns arriscam manter a muda enterrada, pois há chance de as plantas sobreviverem cobertas. Se a geada atingir o café nessa etapa precoce, é perda certa”.
O custo do método de proteção pode ser dividido entre o momento do enterrio e a hora de desenterrar a muda.
O enterrio pode ser feito de forma mecânica, com arado, portanto, menos oneroso.
Já o desenterrio deve ser executado, obrigatoriamente, com as mãos. A razão, mais uma vez, é a fragilidade das mudas, nos primeiros meses de desenvolvimento.
O cafeicultor precisa de mão de obra extra para agilizar a retirada de terra das mudas. Assim como o frio em excesso, a cobertura por muito tempo acaba por sufocar a planta, que sofre com a falta de luz e com as temperaturas mais elevadas, comuns sob o solo.
Por isso, a contabilidade no tratamento das mudas fica mais complicada com esses episódios de frio rigoroso em intervalos curtos.
O pesquisador e Coordenador Estadual de Pesquisa do Programa Café do IDR-Paraná, Gustavo Hiroshi Sera, contabiliza esse manejo manual. O IDR é o Instituto de Desenvolvimento Rural – IAPAR-EMATER.
“Cada muda de café custa, em média, R$0,70. Um hectare com café tem cerca de 6 mil plantas. Chegamos a R$ 4.200,00 o investimento, somente com a aquisição das mudas, fora mão de obra de plantio e outros custos da atividade”, destaca o coordenador.
Mas, então, o que fazer?
Gustavo Sera esclarece que há vários fatores ao se considerar o tempo de resistência das mudas enterradas, mas, costuma-se estabelecer o prazo de 20 dias. Esse período evita o enterra-desenterra diante do anúncio de cada geada em intervalos curtos, o que ajuda a reduzir custos com pagamento de diárias.
A primeira geada caiu sobre o estado do Paraná no dia 30 de junho. A segunda, em 20 de julho, conforme as regiões. “Quem enterrou as mudas no primeiro anúncio de geada conseguiu manter as plantas cobertas até passar a segunda onda gelada, depois precisou liberar as plantas. Mantê-las sob a terra mais tempo, implica em risco de perda do investimento, não pelo frio, mas pelo sufocamento”.
Não demorou e nova massa polar atingiu o Paraná, nos últimos dias de julho. O cafeicultor precisou cobrir as mudas, mais uma vez.
Houve casos nos quais o cafeicultor desenterrou após a primeira geada, e voltou a cobrir no segundo evento gelado. Em resumo, os produtores economizaram uma vez, em três geadas seguidas.
Alternantivas
Há outras técnicas de proteção das mudas recém-nascidas testadas e indicadas por pesquisadores do IDR PR. Uma alternativa, por exemplo, é utilizar telhas de bambu gigante cortadas em metades ou tubos de PVC, com uma camada adicional de terra. “Esta técnica é muito eficiente porque protege as mudas das baixas temperaturas, causa menos estresse e tem maior facilidade na retirada”, orienta Gustavo Sera.
Resíduos vegetais, como palhada de outras plantas depositadas sobre as mudas, formam uma cobertura espessa que também protege, e, deve ser retirada após passado o risco.
Os túneis de guandu são outra alternativa bastante conhecida dos cafeicultores. O guandu comum ou guandu gigante é semeado na entrelinha em setembro-outubro, e conduzido para formar um túnel alto sobre a linha de cafeeiros, que é plantado em fevereiro-março após um período chuvoso. Essa estratégia ajuda, ainda, a aumentar a eficiência de pegamento, e reduz a incidência de bicho mineiro e ervas daninhas. O túnel deve ser gradativamente eliminado após o inverno.
Importância do trato cultural
Para o agrônomo da Integrada, se não há como barrar o fenômeno climático, há como prevenir prejuízos maiores a partir do manejo adequado dos cafezais. “Estamos observando que nas lavouras onde foi adotado um planejamento de adubação específico para as características do solo da região, os efeitos das geadas, em médio e longo prazo, serão menores. Somados o equilíbrio nutricional e os tratos culturais executados nos momentos indicados, essas áreas devem se recuperar melhor e mais rápido”, observa Márcio.
O agrônomo acrescenta que, nos casos de poda, a tendência é de brotação mais vigorosa, tendo em vista o estado geral de sanidade das plantas. “A assistência técnica atua de forma constante junto aos cafeicultores. A avalição permanente nos permitiu constatar essa capacidade mais positiva de recuperação nas áreas”, completa.
Sem geadas, por enquanto
Apesar da notícia da chegada de mais uma onda de frio ao estado, nos próximos dias, a meteorologia não indica novas geadas fortes a atingir o norte pioneiro do Paraná, onde se concentra a maior parte dos cafezais do estado.
No entanto, é preciso acompanhar diariamente os serviços de meteorologia, como a Previsão do Tempo oferecida aos cooperados da Integrada.
Para saber como o clima deve se comportar, acesse:
https://integradanews.com.br/categorias/previsao-do-tempo/
Fonte e fotos das técnicas de proteção: MÉTODOS DE PROTEÇÃO CONTRA GEADAS EM CAFEZAIS EM FORMAÇÃO. Paulo Henrique Caramori, Armando Androcioli Filho, Francisco Carneiro Filho, Dalziza de Oliveira, Heverly Morais, Alex Carneiro Leal e Jonas Galdino. IDR PR.
Foto do coordenador: arquivo pessoal.
Foto destaque: CaféPoint