Os mercados brasileiro e mundial de laranja, novas estratégias de produção e o futuro do setor na Integrada foram temas debatidos no primeiro evento presencial pós pandemia, exclusivo para o segmento, organizado pela cooperativa, em Londrina.
O encontro reuniu mais de 130 citricultores cooperados, colaboradores e especialistas. Experts do GTACC – Grupo Técnico de Assistência e Consultoria em Citros, com sede em Bebedouro/SP, apresentaram estatísticas e indicaram caminhos para a melhoria na rentabilidade da citricultura. A Integrada é membro da instituição. Especialistas da cooperativa também contribuíram.
Na abertura, o diretor presidente, Jorge Hashimoto, lembrou o início, em 2008, com o Projeto Sucos, e destacou que “a Integrada nunca planejou implantar pomares próprios. A proposta sempre foi oferecer uma alternativa de diversificação de renda para o cooperado, e garantir a entrega da safra, com a inauguração da indústria de sucos, em 2013. Agora, avançamos com novos projetos para a laranja dos cooperados”.
A qualificação do produtor e dos profissionais da área foi uma das metas do encontro. Transferir informações e sanar dúvidas aprimoram a atividade e permitem a tomada de decisões, como ampliação do pomar, ou adoção de novas tecnologias, com mais assertividade.
Palestras com experts
Entre os convidados, o doutor em agronomia e diretor de marketing do GTACC, Humberto Vinícius Vescove, traçou um painel com estratégias para o manejo populacional do Diaphorina citri. O inseto psilídeo, sugador de seiva das plantas de citros, é vetor da bactéria Candidatus Liberibacter spp., que causa o HLB – huanglongbing, o temido greening. Combater o inseto, que carrega o microscópico ser devastador de pomares, é o maior desafio da citricultura mundial.
Vescove lembrou que o greening reduziu de forma drástica a produção de laranja nos Estados Unidos. E, também mudou o cenário dos pomares paulistas, estado maior produtor nacional de laranja. Ele mostrou que, em 2018, São Paulo tinha 401 mil hectares com laranja. A área, em 2022, caiu para 387 mil hectares. “Na safra 19/20, os citricultores paulistas perderam 20 milhões de caixas de laranja para o greening. E, se estima que a doença vai tirar mais 20 milhões de caixas dos pomares no estado, em 2022. O Paraná ainda tem um índice entre 1% e 2% de infestação da doença, ou seja, ainda é possível controlar a expansão e os danos financeiros”, alertou.
Entre as estratégias aconselhadas pelo especialista estão o monitoramento frequente dos pomares, a erradicação de árvores infectadas, a distribuição de armadilhas adesivas em vários pontos do pomar, pois vão ajudar a quantificar, por amostragem, o índice de infestação do psilídeo. Vescove alerta para a importância das ações em conjunto, entre citricultores vizinhos. “Hoje, exterminar o psilídeo é quase impossível. Assim, é fundamental adotar em grupo as ferramentas de controle, para que a população do inseto reduza, de fato”.
No espaço aberto para dúvidas e colocações, o diretor secretário da Integrada, Sérgio Otaguiri, pediu informações sobre citros transgênicos. Humberto Vescove esclareceu que há resistência do mercado consumidor internacional, especialmente Europa e Estados Unidos.
O superintendente comercial, João Bosco de Souza Azevedo, usou a palavra para reforçar a orientação do palestrante sobre a união para o combate ao greening. “É um problema de todos, por isso, essa ação coletiva é fundamental. A Integrada está pronta para assessorar os produtores na formação de um grande bloqueio contra a doença”.
Outra contribuição consistente partiu do também doutor em agronomia e sócio proprietário da Vescove, Rogério Teixeira Duarte. Ele concilia a empresa com a coordenação do Laboratório de Entomologia da UNIARA – Universidade de Araraquara/SP. Duarte destacou a participação do Brasil para a produção mundial de alimentos até 2026/2027. “Pelo menos 41% do total vai sair do agronegócio brasileiro, inclusive, a laranja, pois somos o maior produtor global desde 1980. Por essa razão, a meta é adotar alta tecnologia e aperfeiçoar a administração financeira da atividade”.
O especialista listou os maiores desafios da citricultura hoje, como fitossanidade, custo de produção, crise econômica mundial, preços internos e externos, mudanças climáticas, produtividade. Este último item envolve etapas como a nutrição. “Nutrição mais eficiente reduz custos de produção”, garante Rogério Duarte.
A palestra técnica mostrou como a aplicação do fertilizante nas quantidades adequadas para o solo e características do pomar, garantem redução de custos e aumento de produtividade. “É preciso saber, inclusive, a idade ideal para a adoção da ferramenta tecnológica selecionada pelo produtor, para o máximo aproveitamento possível da estratégia”, orientou Duarte.
Adubação de liberação lenta, fertirrigação, adubação foliar, foram opções detalhadas pelo palestrante. Com destaque para as variáveis que interferem na produção e produtividade. “O clima influencia 50% da atividade. Os outros 50% podem ser controlados pelo produtor, pois 23% são cuidados com o solo, 14% técnicas adequadas de manejo e 13% atenção às plantas”.
Na abertura da segunda etapa do encontro, o gerente técnico da Integrada, Wellington Furlaneti, destacou aos presentes a expertise do time de agrônomos e técnicos da cooperativa, em constante aperfeiçoamento para a melhor assistência aos cooperados. “São mais de 130 profissionais disponíveis para entregar orientação e informação aos 11.500 cooperados Integrada. Contem com a gente”, reforçou o gestor.
A terceira palestra do SOMAR ficou sob responsabilidade do diretor de marketing do GTACC, Danilo Luchiari. Danilo detalhou a atuação do GTACC, como “um grupo de consultores, reunidos sem fins lucrativos, que empregam os recursos dos membros em pesquisas e desenvolvimento a favor da citricultura. Temos a maior representatividade na área da fruticultura, no mundo”.
Danilo apresentou estatísticas sobre as vantagens da implantação da irrigação nos pomares, conforme a região e o solo. E, alertou sobre o aspecto inicial da técnica, que é disponibilidade e qualidade da água, para o sucesso do investimento.
O especialista revelou os custos médios de implantação da irrigação, alertou para a importância do planejamento, observação da legislação ambiental sobre o tema, e fundamental manutenção e monitoramento da técnica, após a instalação. “A irrigação bem conduzida pode ampliar em até 200 caixas/ano, uma área que produz mil caixas por hectare/ano, por exemplo. Na cotação atual, representa cerca de cinco mil reais a mais, por ano. Vale a pena”, contabiliza o consultor.
O agrônomo Carlos Vagner Aravechia, que atende citricultores cooperados da Integrada na região de Assaí, relatou o alto nível do SOMAR, inclusive para o time de profissionais. “Qualidade técnica e de informações fantástica. Uma excelente oportunidade para revisão de conceitos e atualização do atendimento que prestamos a campo”.
Quem também aprovou o evento foi a produtora rural Cláudia Helena Carlomagno, de Cornélio Procópio. Ela tem grande experiência em agricultura sazonal, e decidiu apostar na laranja. Os jovens pomares passaram por colheita teste em 2020. A safra comercial será em 2024. Cláudia conta porque resolveu se tornar uma cooperada Integrada na laranja. “Recebi excelentes referências em relação à assistência técnica, o que é fator primordial, já que estou entrando na atividade e preciso investir nas melhores estratégias. Outro ponto positivo é a indústria de sucos da cooperativa, que representa garantia de entrega da safra. Vim para somar, e tenho muita expectativa no retorno. Comecei com 19 mil plantas e já quero aumentar a área”, revela a produtora.
O gerente industrial, Paulo Rizzo, assumiu a apresentação sobre o funcionamento da UIS – Unidade Industrial de Sucos da Integrada. O gestor relatou como a indústria consegue revelar o manejo dos pomares, através das características das laranjas recebidas. O laboratório da UIS realiza permanentes testes que conseguem detectar o equilíbrio entre o açúcar e o ácido da fruta (RATIO), o frescor, a adstringência, o teor de bitter, ou amargo, o sabor de queimado e de “passada”, classificando a fruta por pontuação. “Uma laranja com sabor pontuado em 39 é considerada excelente. A classificação vai até 34, ou, muito pobre em sabor”, conta Rizzo.
A classificação da laranja determina a qualidade do suco concentrado produzido na UIS. O suco concentrado de laranja da Integrada tem clientes em mais de 30 países, e a indústria tem certificações internacionais de qualidade.
Rizzo reafirmou que o cenário econômico internacional é desafiador, com a oscilação da cotação do dólar, pouco reajuste nos preços do suco concentrado, custos com logística, efeito da pandemia, inflação, poucos contêineres refrigerados, indefinição quanto à demanda e variação na qualidade da fruta. “Há, ainda, aumento de doenças e pragas nos pomares em todo o planeta e insumos mais caros. Como os estoques globais estão baixos e há tendência de aumento no consumo, o ano tende a ser muito favorável para a laranja do Brasil, e da Integrada”, acredita o gerente industrial.
O cooperado Ângelo Kenji Shida Filho e a família apostam na laranja desde 2008. Ele aprovou o SOMAR e viu o encontro como “uma entrega enorme de conhecimento atualizado. Ficamos focados no dia a dia da atividade e é rara a oportunidade de assimilar tanta informação em um único dia. Somos produtores de grãos e adotamos a laranja como diversificação de renda. Com o apoio e a estrutura que a Integrada oferece, estamos satisfeitos com a laranja”.
O superintendente comercial João Bosco de Souza Azevedo retomou a palavra para contar que integrou um grupo da cooperativa que visitou a Fundecitrus – Fundo de Defesa da Citricultura, associação privada, sem fins econômicos, em benefício público da citricultura, em Araraquara. O objetivo foi a troca de conhecimentos. “A laranja é uma alternativa rentável, tanto que nosso próximo projeto é o suco pronto. E, a Integrada precisa de garantia de entrega. Nesse sentido, o contrato de fidelização por 10 anos é a segurança da realização dos projetos, pensados para agregação de valor para os próprios cooperados”, avaliou.
Uma nova apresentação foi comandada pelo especialista comercial da Integrada, Wagner Gund. O trader revelou as estratégias de mercado adotadas pela Integrada, para reverter em novos negócios as mudanças que estão influenciando o setor. “Estamos investindo em contato direto com vários clientes ao redor do mundo, intensificamos nossa participação em eventos de citricultura, inclusive feiras internacionais, aprofundamos as análises de mercado e possibilidades de ajuste para garantir a competitividade nos preços, ampliamos a prospecção de novos mercados, e priorizamos parcerias com grandes players. São ações que visam aumentar nossa participação no comércio internacional, para potencializar a credibilidade que o suco concentrado da Integrada já tem nesse meio”.
Sérgio Otaguiri acrescentou que “é um produtor de laranja feliz pelo retorno que a atividade proporciona. Sou citricultor desde 2007, em 2008 entrei para a integração ofertada pela cooperativa, para reforçar a renda, inclusive porque a safra de grãos 2007/2008 foi prejudicada pelo clima. Temos uma equipe capacitada, temos uma indústria que garante o recebimento, vamos nos unir contra o greening e garantir o sucesso da atividade”, propôs o diretor secretário da Integrada.
Diretores da Integrada participaram do encontro, como sinalizador do apoio da alta gestão à citricultura. Além do diretor presidente, Jorge Hashimoto, o diretor secretário, Sérgio Otaguiri, e o superintendente comercial, João Bosco de Souza Azevedo, acompanharam as palestras o superintendente geral, Haroldo Polizel e o superintendente de insumos e técnica, Edson de Oliveira, além de gerentes e coordenadores de várias Regionais que tem laranja em sua área de atuação.
O SOMAR foi encerrado com uma palestra do coordenador de agricultura de precisão da Integrada, Marcelo Bercelini. O profissional demonstrou como o uso dos insumos pode ser otimizado, e ser suporte para uma tomada de decisão mais racional no campo.
Marcelo apresentou a redução de custos e economia com insumos, em duas propriedades de cooperados Integrada. Em Santa Cecília do Pavão, norte pioneiro do Paraná, a análise de solo revelou os volumes ideais de aplicação de calcário e gesso. “Foram economizadas 125 toneladas de calcário e 72 toneladas de gesso, ou R$59.500,00 a menos de custo para o produtor”, apontou o coordenador. Em outra área, em Doutor Camargo, norte central do Paraná, foram 198 toneladas a menos de calcário e quase R$49 mil reais em economia.
Bercelini acrescentou que o valor economizado pode ser investido em outras tecnologias, que podem ajudar no aumento de produtividade da área. “Além de diminuir a variabilidade espacial, a agricultura de precisão é uma ferramenta sustentável, pois orienta a aplicação apenas da quantidade necessária dos insumos”.
O SOMAR teve o apoio de parceiros, como a AMVAC do Brasil, Bayer, Corteva, FMC, Ihara, Nortox, Syngenta, Ubyfol, UPL e Yara.