Live Integrada – a estiagem, a Covid-19, e seus efeitos sobre o agronegócio do Brasil

A Integrada abriu a agenda de lives técnicas 2022 com uma análise sobre os reflexos dos principais eventos de 2021 para o agro no país. O comando da apresentação esteve, mais uma vez, nas mãos do doutor em Economia pela USP e cooperado Integrada, Alexandre Mendonça de Barros. A moderação foi do superintendente comercial da Integrada, João Bosco de Souza Azevedo.

Na live, pelo canal da Integrada no YouTube, o superintendente comercial, João Bosco de Souza Azevedo, conversa com o economista e cooperado Alexandre Mendonça de Barros sobre a movimentação do mercado para as principais commodities agrícolas do Brasil.

No canal do YouTube da Integrada, players do setor, parceiros comerciais da cooperativa e público ligado aos temas, acompanharam o especialista, que apresentou gráficos e indicadores para ilustrar suas análises e ponderações. O encontro foi ao ar nesta quinta-feira (20).

Soja e milho

Na primeira colocação de Mendonça de Barros, a colheita mundial de soja e milho em 2021 foi boa, tendo em vista as turbulências provocadas pelo stress hídrico e geadas em países como o Brasil, maior produtor de soja do mundo, e os riscos climáticos e desdobramentos da pandemia de Covid-19 no planeta. “Estados Unidos colheu a maior safra de milho da sua história, foram 384 milhões de toneladas, na soja foram 121 milhões de toneladas, a Europa colheu 70 milhões de toneladas de milho, talvez a maior safra da última década para o bloco produtor, a China também bateu recorde na colheita do milho, com 270 milhões de toneladas”.

“No entanto, a forte demanda pelo consumo reduziu os estoques mundiais, e manteve os preços das commodities altos, cenário que se repete até janeiro. Inclusive, entramos em 2022 com estoques mundiais iguais ou piores do que janeiro do ano passado”, disse o analista.

Alexandre observa que, em razão do equilíbrio entre oferta e demanda, e do risco permanente do clima, os preços em 2022 tendem a sofrer alta volatilidade. “Certamente, o consumo vai continuar forte, assim, os preços dificilmente vão se manter estáveis por longos períodos”.

O especialista acrescenta que “desde a proliferação das informações sobre o bloqueio atmosférico que provoca tanto calor e seca no Sul do Brasil e sul do Mato Grosso do Sul, os fundos passaram a comprar soja fortemente nas últimas semanas. A razão é o potencial do impacto que uma quebra de safra nessa região pode provocar, pois é grande produtora da oleaginosa”.

No entanto, ele observa que esse cenário é extremamente dinâmico, e pode ser bem diferente dentro de poucas semanas. “Com 41 milhões de hectares semeados com soja no país, o cerrado, por exemplo, pode fazer a diferença, com uma boa produção. Além disso, com o enfraquecimento do La Niña, e afastamento do bloqueio atmosférico na região sul brasileira, as chuvas que virão podem ajudar a colher melhor as lavouras semeadas por último”.

Mendonça de Barros destacou que o próprio USDA – United States Department of Agriculture, projetou a safra brasileira de soja com números otimistas, 139 milhões de toneladas. Poucos dias depois, a expectativa foi reduzida para 132 milhões de toneladas, por razões climáticas, além de um estoque mundial final em 22,8% da colheita total prevista, de 361 milhões de toneladas. “Mas, na próxima semana tudo pode estar muito diferente”, alerta Barros.

O importante é buscar atualização e informação de qualidade, em eventos como a live gratuita proporcionada pela Integrada. O especialista acrescentou que clima e mercado são variáveis básicas na formação de preços, porém, os reflexos do período mundial singular continuaram alterando até o patamar de formação de preços da soja, por exemplo. “E, nos Estados Unidos, já começam a aparecer discussões sobre clima para a safrinha, o que deve acarretar em ainda mais volatilidade dos preços”, antecipa Alexandre Mendonça de Barros.

Trigo

Com a safra 2021 colhida, os preços do trigo também seguem sustentados, segundo Barros. O mundo colheu 779 milhões de toneladas do cereal, no ano passado, a melhor safra dos últimos anos também. Até a safra 2022, o consumo previsto é de 786 milhões de toneladas, ou seja, o estoque de 280 milhões de toneladas é fundamental para garantir o atendimento do mercado.

Segundo Barros, com estoques apertados os preços do trigo devem se manter sustentados até a próxima safra.

Com isso, os preços do trigo também continuam elevados, e a rentabilidade também estreita. “O custo de produção está tão alto desde 2021, que não há espaço para acomodação dos preços. E, nesse momento, entra em discussão se haverá, ou não, um recuo no uso de tecnologias, como a adubação por hectare. Nos Estados Unidos e Europa já se fala em 5 a 10% menos fertilizantes nos próximos plantios do cereal”.

Laranja

As chuvas pesadas que caíram em São Paulo, principal produtor da fruta no Brasil, podem comprometer a safra paulista em algum nível.

Em escala global, a expectativa dos estoques de suco concentrado de laranja é a menor dos últimos tempos, apenas cinco meses. Inclusive, nos Estados Unidos, a safra vem diminuindo há alguns anos, a ponto de antigas e tradicionais áreas com pomar se transformarem em centros urbanos, em busca de valorização, pelo menos, do patrimônio. “Há cidades coladas em lavouras de laranja”, relata Barros. A decadência da atividade nos EUA favorece abertura de mercado para o Brasil.

João Bosco compartilhou a análise de que um forte player como os EUA diminuir a produção, sinaliza uma oportunidade de mercado para a laranja brasileira. “O cenário pode ser especialmente interessante para a Integrada, que está buscando autossuficiência na produção, para fazer a indústria em Uraí/PR rodar full, ou seja, com toda a capacidade instalada e, 100% com laranjas de pomares de cooperados”.

Os especialistas também concordaram que, ainda que a China venha aumentando áreas com pomares de laranja, o mercado se mostra crescente.

De volta ao Brasil, em outras regiões produtoras, como o sul de Minas Gerais, as chuvas devem cair com mais regularidade, o que pode favorecer a cultura. Assim, o mercado restrito deve absorver bem a produção, com preços relativamente bons.

Café

Com preços extremamente fora do padrão, muito em razão da quebra da safra brasileira, o café deve manter os preços em alta, pois o consumo está aquecido. “É um cenário único que o cafeicultor precisa aproveitar”, aconselha Barros.

Insumos

O superintendente João Bosco lembrou que “é notória a alta do custo de produção em dólar, especialmente os fertilizantes, com alguns produtos com mais do que o dobro do preço da safra 20/21. Assim, talvez a melhor conta para o produtor seja negociar seu produto para ganhar menos, em vez de correr o risco de 2022 ser o ano em que dele perdeu dinheiro”. O doutor em economia e apresentador da live disse que a decisão é difícil, mas como produtor rural, ele opta, sempre, por travar pelo menos os custos de produção. “Eu prefiro proteger minha atividade pelo menos nos custos”, avalia Mendonça de Barros.

Barros apresentou a relação entre a alta e a queda de preços dos fertilizantes e dos alimentos, e, como os insumos explodiram para além da média desse padrão, em 2021.

O economista apresentou um gráfico, no qual se observa que a alta nos preços dos alimentos está diretamente ligada à alta dos fertilizantes. O estudo é da FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação, ligada à ONU – Organização das Nações Unidas. “No entanto, desde o ano passado, o adubo subiu cerca de 30% mais, em relação à movimentação dos preços dos alimentos. A razão é queda na oferta, não por falta da matéria prima, mas por causas geopolíticas. No entanto, para o agronegócio, o cenário é preocupante”, afirma Barros.

Para ele, o produtor precisa adquirir o fertilizante até abril ou maio, para que o produto seja entregue até agosto, para garantir a safra 22/23. “O Brasil consome hoje, cerca de 46 milhões de toneladas de adubo, é um volume gigantesco. Atrasar a compra pode acumular os pedidos e provocar sérios problemas de logística na hora da entrega”, alerta Barros.

Clima

Segundo Alexandre Mendonça de Barros, o fenômeno climático La Niña está perdendo força, mas seus efeitos devem ser sentidos até maio ou junho, o que traz apreensão em relação à safrinha do Paraná e do Mato Grosso do Sul, e até mesmo algumas áreas de São Paulo que adotam esse plantio.

Em relação à agricultura norte-americana, o La Niña tende a levar menos chuva para o meio oeste do país, na primavera, o que pode deixar o período de plantio mais seco. “Além disso, o inverno nos Estados Unidos foi mais quente, o que reduziu o volume de neve, que tem papel importante na umidade do solo, e para a agricultura do país. Essas probabilidades devem se tornar assunto recorrente do segmento dentro de uns três meses”, adianta o economista.

Para assistir ou rever a live, acesse o canal da Integrada no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=HncbmHkcCa4

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