Live Integrada – Análise de mercado e conjuntura do agronegócio

Os efeitos do conflito Rússia/Ucrânia, iniciado em fevereiro, reverberam nas bolsas mundiais e nos negócios do planeta. Agora, uma nova sombra encobre a economia global: a inflação.

O assunto foi apresentado em mais um live da Integrada, quinta-feira (04), com análises criteriosas do agrônomo, doutor em Economia Aplicada pela USP e consultor, Alexandre Mendonça de Barros. A mediação ficou com o superintendente comercial da cooperativa, João Bosco de Souza Azevedo. O encontro virtual foi transmitido pelo canal da Integrada no YouTube.

Consultor do agronegócio, Alexandre Mendonça de Barros, em live mediada pelo superintendente comercial da Integrada, João Bosco de Souza Azevedo. Pelo chat do canal da Integrada no YouTube, a volta da inflação e a movimentação do mercado de commodities foram alvo de análise e perguntas dos participantes virtuais.

Antes de fazer a análise conjuntural específica das commodities agrícolas, Barros explicou a volta da inflação. Ele mostrou como a pandemia de Covid-19 fez o consumo mundial recuar, porque a renda da população encolheu drasticamente. Com o retorno gradativo da normalidade, a sociedade voltou a adquirir bens e contratar serviços em um ritmo acelerado. Com esse cenário, as taxas de juros dispararam, e a inflação se instalou. “Mas, fica a dúvida: a causa da inflação é a baixa oferta de produtos e serviços, ou essa explosão na demanda?”, desafia Barros.

Segundo o consultor, os Bancos Centrais do mundo acreditam que o excesso de demanda causou desequilíbrio nas economias, e, por essa razão, eles decidiram elevar os juros, na tentativa de conter o consumo. “Nos Estados Unidos, por exemplo, o governo federal aplicou taxas mais altas para tentar “esfriar” a economia e o impulso inflacionário. Como consequência, os Fundos de Investimentos, que estavam com as compras de commodities do agronegócio muito aquecidas, reagiram com vendas massivas. Foi uma movimentação financeira, pois são grandes especuladores, que visualizaram a desaceleração das economias para breve, com a queda no consumo em geral. Na medida em que a taxa de juros sobe, eles preferem aplicar em títulos do governo americano, mais seguros e rentáveis”.

Alexandre Barros alertou que essa forte liquidação dos Fundos é baseada em um fundamento macroeconômico, não em risco real de quebra da safra americana. “Diante desse vendaval essencialmente macroeconômico é difícil prever quando e se a inflação vai baixar, qual a próxima dose da taxa de juros dos Estados Unidos, e quais os reflexos concretos para a economia global. Hoje, o cenário mostra a desaceleração da economia mundial, inclusive para 2023. Vamos acompanhar”, ponderou.

Os internautas participaram da live e contribuíram com perguntas. Um dos corretores parceiros da Integrada, Giovani Locatelli, interrogou o consultor sobre uma possível vantagem no prêmio da soja no Brasil, caso se concretize um embargo da China à soja americana. O condutor da live acredita que sim, e aproveitou para apresentar um efeito não previsto no setor de esmagamento de soja no Brasil. “Em 2021 o Brasil exportou 90 milhões de toneladas de soja. Com a quebra na última safra, foram exportados 70 milhões de toneladas. Era esperado que o esmagamento também caísse, mas com a alta no preço do óleo, a expectativa é de mais esmagamento interno. A China tem uma enorme capacidade de esmagamento de soja, e, mesmo assim, há indícios de que compre até farelo de soja do Brasil. Outro aspecto, em 2021, exportamos de 30 a 40% mais óleo, em relação à média. É o mercado de biodiesel se mostrando interessante. Sobe o óleo, sobe o biodiesel, vamos dar atenção a esse mercado”, adianta Alexandre de Barros.

Milho

Por enquanto, as atenções se concentram na safra americana. Por lá, o clima está seco e as temperaturas altas. “Choveu um pouco mais do que o previsto, e, como o mercado é muito sensível a qualquer alteração, é preciso seguir monitorando até mesmo pequenas mudanças nos modelos climáticos. No entanto, no máximo, em cinco semanas, a produção americana de milho vai se consolidar. Aí, os players se voltam para as safras brasileira e argentina”, explicou Barros.

Para o consultor, também é cedo para confirmar algum prejuízo em decorrência do La Ninã. “O fenômeno climático foi determinante nas últimas duas safras. E, está presente no momento. Mesmo assim, é cedo para dizer que teremos quebra novamente. Mais uma vez, é preciso acompanhar diariamente o clima”, afirma Barros.

Vale acrescentar, que a produção de milho e trigo na Ucrânia são muito relevantes para o mercado mundial. E, possíveis perdas nessas culturas, em razão da guerra, podem influenciar na futura área de soja no resto do mundo. “Há uma correlação entre esses mercados. Eu só não acredito que os preços atinjam os altos valores do início do conflito”, afirma Alexandre de Barros.

Em paralelo, há pouco tempo, a China acenou com a possibilidade de importar milho do Brasil. Seria mais uma movimentação dos importadores que perderam o mercado da Ucrânia. “Com isso, os preços devem se manter em patamares muito bons”, acredita Barros.

USDA – Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, estima oferta e demanda apertadas para a produção mundial de milho, o que deve sustentar os preços, porém, sem grandes altas.

O superintendente comercial da Integrada acrescentou o recente protagonismo das usinas de etanol de milho no Brasil. “Estão se tornando fortes players, abrindo ainda mais esse mercado, o que é muito interessante para nós”, destacou João Bosco.

Além disso, o mercado de DDG está em grande expansão. O DDG é um coproduto no processo de obtenção do etanol de milho. É um composto proteico de grande interesse comercial para uso industrial em rações animais, especialmente, em confinamentos. “É outro produto atraente para gerar valor para as usinas”, complementa Barros.

Laranja

Há piora na safra americana, por seca e doenças. O USDA – United States Department of Agriculture, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, projeta a colheita de 41 milhões de caixas da fruta, seis vezes menos do que os 241 milhões de caixas que o país já colheu, cerca de 20 anos atrás. Os pomares americanos estão envelhecendo e não há substituição proporcional das plantas.

No Brasil, a safra está em recuperação, com estoques de passagem de junho e julho ainda baixos, mas previsão de oferta e demanda estável. A colheita deve ficar perto de 270 milhões de caixas. “Os preços estão bons no mercado externo, ainda que as altas tarifas cobradas pelos Estados Unidos tirem um pouco desse valor. Também é preciso acompanhar os reflexos da movimentação dos Fundos de Investimentos, que, como já falamos, estão prevendo uma desaceleração na economia mundial.

No mercado de sucos, após a alta no consumo verificada no período mais intenso da pandemia de Covid-19, quando as pessoas buscaram a proteção da vitamina C, se percebe, há algum tempo, que as vendas diminuíram. “A razão principal é o preço, em razão da queda na renda da população junto com a alta no valor do produto”, explicou Barros.

Café

O USDA estima uma colheita de 64,3 milhões de sacas para o Brasil, na safra 22/23, o consultor trabalha com um volume próximo, 63,8 milhões de sacas. Na média, o arábica deve responder com cerca de 40,3 milhões de sacas.

“Os preços no mercado futuro indicam acomodação. Isso se deve à estimativa de um potencial produtivo maior para a próxima safra brasileira, já que há tendência de recuperação dos efeitos do clima. E, a relação estoque consumo deve permanecer entre 20% e 23%, o que é considerada baixa”, analisa Alexandre Barros.

Fertilizantes

O potássio continua disputado, pois a Bielorrúsia continua fora do mercado. O país fornece perto de 18% do produto para o mundo. “Mas, em geral, vemos uma certa acomodação dos preços dos fertilizantes aqui no Brasil, muito em razão do desempenho das indústrias nacionais. É preciso destacar que o setor foi muito ágil em fornecer o maior volume possível dos insumos, porque nossa demanda é enorme”, reconheceu Barros.

O consultor Alexandre Barros ressaltou o desempenho da indústria brasileira de fertilizantes, que evitou uma crise nos produtos.

A agrônoma da unidade de São Martinho/PR, Luceli Violim, também usou o chat do canal da Integrada no YouTube para questionar o especialista sobre a oferta de matéria prima para a produção dos agroquímicos.

O economista comentou que “a guerra Rússia/Ucrânia mantém as incertezas no mercado global no setor, por isso, a postura deve ser a mesma em relação às outras commodities, monitorar preços e ações dos grandes players”, recomenda Alexandre.

Trigo

O superintendente João Bosco comentou sobre a mudança na correlação de preços entre milho e trigo. Há grande expectativa para produtividade e qualidade, mas ainda precisa cair uma boa chuva em algumas regiões produtoras do Paraná, para que a produção do trigo se confirme. Com a entrada da colheita no estado, Bosco pediu ao convidado uma análise sobre os preços do cereal, tendo em vista o cenário global.

O Paraná espera uma boa safra de trigo. Preços devem se manter firmes, o que exige atenção, pois somos importadores do cereal, aconselha o analista Barros.

“Como a relação estoque consumo cai, os preços internacionais devem se manter firmes. Só é preciso lembrar que o Brasil é comprador de trigo, então, conforme a negociação, atenção ao câmbio”, finalizou Alexandre Mendonça de Barros.

Para assistir a live na íntegra, acesse:

https://www.youtube.com/watch?v=_76VJc4Pe4I