Reflexos da guerra Rússia/Ucrânia – o agro deve buscar informações seguras

Na live transmitida pelo canal do YouTube da Integrada, nesta quinta (10), o economista e consultor, Alexandre Mendonça de Barros, apresentou um panorama da movimentação do mercado e das commodities, em razão da guerra no leste europeu.

O encontro virtual foi mediado pelo superintendente comercial da Integrada, João Bosco de Souza Azevedo, com a interação de vários “livespectadores”, como definiu Bosco. “Participaram cooperados, colaboradores e representantes de players como moinhos de trigo, tradings e outros setores. Foi muito produtivo”, definiu o gestor.

Entre tantas reações, o conflito bélico tem provocado boom de preços no mercado internacional. Como consequência, altas dos produtos também no mercado doméstico. Nesse sentido, há produtor dividido entre a boa notícia de melhorar sua rentabilidade, porém, como resultado de um evento profundamente grave, que tem tirado vidas e prejudicado a economia de outros segmentos.

Antes de entrar na análise do mercado de commodities, o consultor Alexandre Barros, que também é produtor rural, fez considerações sobre o câmbio. “Com dólar a R$5,60, os preços internacionais explodiram ainda mais no Brasil, tanto na venda de grãos, como na compra de fertilizantes e trigo. As taxas de juros estão subindo e puxando a inflação. Se a guerra não acabar logo, a taxa SELIC, por exemplo, pode ir a 13”, analisou Barros.

SELIC é a sigla para Sistema Especial de Liquidação e Custódia, a taxa básica de juros, um mecanismo de controle de liquidez que o Banco Central usa para determinar a quantidade de moeda (dinheiro) na economia.

Soja

A guerra, no outro lado do mundo, acontece em plena colheita da soja aqui no Brasil, maior produtor global da oleaginosa. Tendo em vista os efeitos do clima, o USDA – United States Department of Agriculture, estima uma colheita de 120 milhões de toneladas de soja brasileira, e 55 milhões de toneladas de soja na Argentina. Como é matéria-prima básica para a ração animal, o preço do leite em pó disparou na Europa. No Brasil, com o custo de produção mais alto, o alojamento de frangos caiu cerca de 10%, o que fez os preços dessa proteína animal subirem.  

O consultor e economista avalia que, no Brasil, os preços dos derivados do petróleo vão puxar altas no óleo de soja, outros óleos vegetais e do sebo. “E, o sistema de produção vai ter que encolher para administrar esses preços elevados”, observou Alexandre.

Trigo

O trigo é o grande protagonista nesse episódio da disputa armada entre a Rússia e a Ucrânia. O país atacado vai conseguir semear a próxima safra do cereal? Caso plante, terá meios para manejar as lavouras? E, caso a guerra termine, e a safra siga normal, como o país vai administrar as vendas? “A Ucrânia planta duas safras de trigo, no inverno e na primavera, por isso, o futuro do produto ucraniano é incerto”, disse Alexandre.

Juntas, Rússia e Ucrânia respondem por um terço do mercado mundial de trigo. “Por questões humanitárias, alimentos e medicamentos ficam fora dos embargos. Mas, não se sabe até que ponto”, alerta o consultor.

Enquanto isso, outros players seguem em ritmo de observação. “Hungria e Argentina vão colocar seu trigo no mercado internacional? Ou, vão apostar em altas históricas? Não há como saber, nesse momento”, analisa Alexandre.

E, o estudioso do mercado de commodities ainda coloca a China no jogo global. “A China pode ajustar com a Rússia um sistema para honrar os negócios russos, travados por diversos embargos internacionais. Vai se concretizar? Tudo depende dos resultados que o conflito produzir nos próximos dias”, afirma Barros.

Fertilizantes

Durante a live, vários internautas interagiram com o palestrante. Uma das dúvidas foi em relação à capacidade do Brasil em se tornar autossuficiente em fertilizantes. Hoje, importamos cerca de 80% das mais de 40 milhões de toneladas utilizadas no agronegócio, a cada safra.

Alexandre apresentou uma situação difícil para o país. “Com os grandes players internacionais, qual empresa brasileira vai investir nesse setor? Mesmo com preços elevados há detalhes, como o fato de que o fabricante de adubos no Brasil paga taxas que são isentas para o importador do produto”.

Como mudar esse ponto a favor do insumo brasileiro? Projetos para exploração de potássio na Amazônia, onde há grandes jazidas do minério, esbarram em leis ambientais e de demarcação de terras indígenas. Outras fontes, no litoral do Nordeste, teriam custo de exploração mais elevado do que o custo equivalente em território russo e bielorrusso. Alexandre acrescentou que, “até chegar no mercado, a produção dessas jazidas levaria pelo menos 5 anos”.

Ele lembra que a Bielorrusia, terceiro maior produtor mundial de cloreto de potássio, está alinhada com a Rússia, o que não facilita a solução do impasse.

O superintendente comercial da Integrada ponderou que, “ainda que tímida, a indústria brasileira de fertilizantes precisa ser fortalecida. É como a nossa produção de trigo, não somos autossuficientes, mas, se tivéssemos que importar as 6,5 milhões de toneladas do cereal que colhemos, a cada safra, em média, o custo do alimento no Brasil seria muito mais elevado. As termelétricas são caras, mas complementam a produção em períodos de alto consumo de energia elétrica. Pouco, apesar do custo, é melhor do que nada”, analisou João Bosco.

Ambos os especialistas concordam que, em curto prazo, o produtor rural brasileiro precisa planejar a próxima safra pensando em aproveitar o potássio que está disponível no solo. “É hora de colocar em prática todos os recursos tecnológicos da agricultura de precisão, desde o básico, como a correção com calcário, até estratégias mais avançadas, ofertadas pela alta agronomia, inclusive, disponíveis ao cooperado Integrada”, ressaltou Barros.

Combustíveis

Alexandre Mendonça de Barros também analisou os efeitos da guerra Rússia/Ucrânica sobre o preço dos combustíveis, especialmente gasolina e diesel. Ele afirmou que o Brasil tem preços defasados em até 35%, em relação ao mercado internacional. “A saída para a Petrobras é equalizar a gasolina, ou, o álcool vai ficar muito barato. Como consequência, o álcool passará a ser exportado, e o preço vai subir no mercado interno. É um desafio”.

Barros finalizou a live, com a seguinte avaliação, “se a guerra se estender, Europa e América do Norte vão originar tudo o que puderem para não prejudicar a população. Mas, essa transição pode custar muito caro. No Brasil, precisamos de decisões firmes do governo federal”.

Para rever ou assistir a live, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=WmjoXm1t6YA