A pandemia e o cooperativismo

Propósito e gestão têm ajudado as cooperativas a se manterem firmes neste período de crise

O modelo cooperativista é exemplo para o mundo. Reconhecido como um dos mais sustentáveis da economia moderna, une um sistema economicamente viável, socialmente justo e ecologicamente correto.

Diante da pandemia da Covid-19, grandes desafios foram impostos para as cooperativas, principalmente para as que são ligadas ao agronegócio.

Pela necessidade mundial por alimentos, o setor não pôde parar, mas, para isso, as cooperativas do segmento tiveram que se esforçar ainda mais para garantir o pleno funcionamento.

O papel do cooperativismo e a sua maneira de operar diante da crise sanitária global é um dos assuntos abordados nesta entrevista com a diretora-executiva da MPrado Cooperativas, Luciana Martins. A especialista em gestão de cooperativas afirma que o propósito das organizações tem ajudado o segmento a se manter ativo diante a atual crise. Confira a entrevista.

1) Como vocês enxergam o modelo cooperativista?

O modelo é altamente competitivo e eficiente, com um potencial de crescimento fantástico pela possibilidade de aglutinar produtores dentro de um propósito comum. O cooperativismo do agronegócio no Brasil tem demonstrado sua competência e, cada vez mais, o seu potencial de enxergar oportunidades nos tempos difíceis e também de exercer um papel fundamental na superação de desafios. Um dado que revela todo este potencial é que, entre as 50 maiores empresas do agronegócio, 15 são cooperativas, provando, assim, que o modelo, quando bem praticado, oferece caminhos para a superação de crises como esta que estamos enfrentando.

2) O sistema foi criado pela necessidade dos associados em prol de um bem comum. Este modelo ainda continua sendo a bandeira do cooperativismo?

Este propósito é muito forte, mas não é só ele que impulsiona o desenvolvimento e crescimento das cooperativas. A visão estratégica, a eficiência de gestão, a segurança financeira e a imagem institucional também são fatores importantes na evolução do cooperativismo.

O sistema cooperativista é extremamente democrático com seus 7 princípios que buscam sempre o bem comum. Ele se destaca por seu posicionamento forte, que se mostra escasso na sociedade, tais como: a confiança e cooperação que, em situações desafiadoras, tendem a se fortalecer e permitir a perpetuidade do sistema.

3) O sistema de gestão no modelo cooperativista é o mais eficiente no comparativo com outros? Por quê?

A gestão em qualquer atividade econômica é muito importante. As cooperativas que acreditam nisto são aquelas que tem crescido com maior sustentabilidade. Os desafios estão associados à necessidade de evolução nas melhores práticas de governança e gestão, tudo através de um robusto investimento nas linhas de conhecimento, organização, automação de processos e controles por parte dos dirigentes. O engajamento dos líderes é um dos fatores que balizará e dará a sustentabilidade necessária para que o setor supere este momento.

4) Como o cooperativismo tem se comportado diante da pandemia?

O cooperativismo tem se destacado durante a pandemia com alto índice de produtividade e exportação, demonstrando resiliência e criatividade em tempos de crise.

O cenário desafiador imposto pela pandemia acelerou a digitalização nas cooperativas, impulsionando a gestão 4.0. Além disso, buscam novas formas de se reinventar nas relações com os cooperados e fornecedores, inclusive ao lidar com o mercado. Ao mesmo tempo, o sistema preserva seus líderes que fazem parte do grupo de risco, tomando todas as precauções para que seus funcionários trabalhem com segurança, utilizando as medidas sanitárias recomendadas pelas autoridades de saúde.

5) No segmento agropecuário, o setor se fortalece diante da constante demanda por alimentos?

A demanda constante de alimentos, principalmente do mercado asiático e do Oriente Médio, tem gerado grandes oportunidades para o crescimento do agronegócio brasileiro e as cooperativas têm aproveitado de forma sábia este momento. O câmbio favorável, com o real desvalorizado frente ao dólar, tem possibilitado a expansão da exportação de alimentos e uma maior rentabilidade para cooperativa e cooperados.

6) Para onde o sistema cooperativista irá pós-pandemia?

A pandemia fortalecerá ainda mais o modelo cooperativista. Muitos dos líderes possuem planos ousados de expansão e as cooperativas têm uma grande oportunidade de crescimento e fortalecimento do seu modelo perante ao mercado.

Luciana Martins, diretora executiva da MPRado