LARANJA – resistente e lucrativa

fruta enfrenta bem geadas e falta de chuvas, e safra surpreende pela produção

Há cerca de dois anos o Paraná sofre com chuvas abaixo da média. Mas, o produtor rural não pode parar, precisa alimentar o estado, o país, o mundo. Ele busca tecnologia e informação para diminuir os efeitos das alterações climáticas, e entregar volume e qualidade.

Esse cenário de desafios foi intensificado pelas ondas de frio. Três episódios em um mês, acompanhados de geadas, atingiram várias regiões.

Mas, a laranja passou pela turbulência climática sem sofrer tantos danos. A colheita começou e dá sinais de boa produção, e ótima renda.

Há duas safras, a laranja tem mostrado boa resistência ao stress hídrico. A produção foi menor do que o previsto, mas as plantas têm uma capacidade incrível de se recuperar. As raízes profundas ajudam a buscar a água que nutre.

Visitando os pomares, é fácil perceber que o broto queimado pelo frio excessivo, tem, ao lado, um novo rebento, promessa de vida e de produtividade.

O gerente da regional da Integrada, Franciel Gustavo Dierings, reforça que a laranja teve um impacto menor na produtividade, em relação às lavouras sazonais. Ele diz que os produtores da Integrada, estão registrando, praticamente, a mesma rentabilidade da safra 2020.

Essa realidade ganha amplitude quando se compara o desempenho econômico da citricultura com o dos grãos. “Mesmo com o preço da saca de soja batendo os três dígitos, é possível dizer que a laranja está 4 vezes mais rentável. E, pode ser ainda mais vantajosa, conforme o mercado”, avalia.

Na área do produtor Sérgio Utiamada, em Uraí, há três variedades de laranja. A Valência está exuberante. Plantas com a florada carregada e, ao mesmo tempo, frutos da florada anterior, que devem ser colhidos a partir de outubro. “Eu fiquei preocupado com as geadas, porque vim no pomar e vi as laranjas cobertas com uma camada de gelo. Mas, o frio forte não prejudicou a fruta madura, um alívio”, conta.

Sérgio tem o pomar formado há 11 anos e relata que a atividade sustenta a família. “Tenho 3 filhos e todos estudam, minha filha vai se formar em medicina este ano, toda a educação deles foi garantida com a renda da laranja”.

O citricultor conta com a experiência na atividade no momento de adotar as estratégias de implantação dos pomares. “Fazer o enxertio adequado para a variedade que se almeja, ajuda a planta a ficar mais resistente à seca, por exemplo”.

Cooperado Sérgio Utiamada, de Uraí: “tenho 3 filhos. Toda a educação deles foi garantida com a renda da laranja”.

E, também valoriza a assistência técnica da Integrada. “O agrônomo visita minha área toda semana, e até mais vezes, essa atenção me deixou seguro para investir mais no pomar”.

O agrônomo Fernando Henrique Agudo informa que, mesmo com as chuvas irregulares, os pomares dos associados mantêm a produção entre 15 e 20 toneladas por hectare. “Os produtores estão investindo em pulverizadores modernos para evitar que doenças e pragas avancem. E, ouvem com atenção quando orientamos manejos e outros cuidados”, destaca.

Agrônomo Fernando Henrique Agudo, da Integrada, “os produtores estão investindo em pulverizadores modernos para evitar que doenças e pragas avancem. E, ouvem com atenção quando orientamos manejos e outros cuidados”.

Com a caixa cotada a um preço firme, e a qualidade dentro do padrão, a rentabilidade está garantida. O preço subiu cerca de 27% em relação à safra passada.

Em 2018, a Integrada lançou um programa de incentivo à expansão do cultivo da laranja entre os cooperados. A fruta traz renda comprovada e é alternativa para determinadas áreas menos indicadas para as lavouras sazonais.

A partir dessa visão, a família Uemura, de Mauá da Serra, está na primeira colheita da fruta. O pai, Yoshi Uemura, e o filho, Rafael, resolveram apostar na laranja porque a propriedade fica em uma área de mais altitude, onde não é viável semear o milho de segunda safra. E, as últimas lavouras de trigo foram atingidas por geadas e falta de chuvas.

Primeira colheita do pomar da família Uemura, em Mauá da Serra. O pai, sr. Yoshi Uemura, e o filho, Rafael, apostaram na laranja para potencializar a altitude da propriedade.

“Acompanhamos o mercado de citros da Integrada por quase 10 anos e decidimos dedicar uma parte da propriedade à laranja, para diversificar renda e diminuir a dependência dos cereais”, explica Rafael. Mesmo sendo a primeira colheita, ele e o pai estão otimistas com a produtividade. “Comparando com o preço atual da soja, nós calculamos uma rentabilidade com a laranja três a quatro vezes superior. Depositamos uma confiança muito grande na laranja, acreditamos que a cultura tem um enorme potencial e vai fortalecer a nossa rentabilidade”, revela o produtor.

O gerente da indústria de sucos da Integrada, Paulo Rizzo, informa que esta é a primeira colheita dos produtores que fizeram o plantio de laranja em 2018. “Esses pomares jovens ainda não estão com o máximo potencial de produção. Nossa expectativa é que na colheita do próximo ano o volume de entrega aumente e estaremos em direção à autossuficiência”.

A indústria tem capacidade para processar mais de 2 milhões de caixas de laranja a cada safra. “Em 2024 os pomares estarão em plena produção e vamos atender nossos clientes com laranja 100% dos cooperados da Integrada. O que significa deixar tributos e recursos dentro do Paraná”, avalia Rizzo.

Laranja 100% útil

A indústria de sucos da Integrada, que fica em Uraí, norte do Paraná, tem um parque fabril organizado e funcional. E, vai muito além de apenas processar a fruta para extrair o líquido cheio de sabor.

Desde a recepção da fruta na Indústria de Sucos, em Uraí, processo é automatizado e acompanhado por profissionais treinados. Aqui, a lavagem, antes da extração de suco e derivados.

O complexo industrial tem instalados equipamentos preparados para retirar da casca o D-limoneno, um óleo considerado solvente natural e ingrediente na indústria química, inclusive de defensivos agrícolas.

Da casca da laranja se extrai o D-limoneno, um óleo considerado solvente natural e ingrediente na indústria química, inclusive de defensivos agrícolas.

Outro derivado da casca da laranja é o óleo essencial, matéria prima empregada na indústria de perfumaria e de alimentação.

E, o que seria um resíduo de todos os processos da indústria, o bagaço ainda é destinado à alimentação do gado, especialmente animais de leite e confinados. O gerente Rizzo esclarece que esse composto é rico em fibras e potássio, naturais da laranja, e cálcio, adicionado em uma das etapas de transformação, na indústria. “São ingredientes fundamentais para abastecer vários segmentos da economia, além de comprovarem que a laranja é 100% aproveitável”, afirma Rizzo.

O bagaço da laranja é alimento para o gado, especialmente animais de leite e confinados. O gerente Rizzo esclarece que esse composto é rico em fibras e potássio, naturais da laranja, e cálcio, adicionado na indústria. “A laranja é 100% aproveitável”, afirma Rizzo.

Renda e sustentabilidade

O gerente Franciel, enumera outros benefícios obtidos com a cultura da laranja. “A planta frutifica bem quando a área está estruturada, com fertilidade alta, o que indica que o produtor investe na saúde do solo. Além disso, a laranja atrai as abelhas, que trabalham de forma intensiva na polinização, e contribuem para um meio ambiente equilibrado”, destaca.

Franciel aponta, ainda, o benefício recíproco produtores-cooperativa. “A citricultura favorece o produtor porque ele pode gerar renda em áreas da propriedade pouco favoráveis ao plantio de lavouras sazonais. Para a cooperativa a laranja proporciona sustentabilidade econômica, com a comercialização de insumos de um segmento específico, o que favorece a diversificação do portfólio de negócios”.

O gerente da regional Uraí revela um olhar mais amplo, quando lembra que a colheita da laranja emprega mão de obra durante, pelo menos, 4 meses e aquece a economia ao redor. “Os trabalhadores adquirem bens e alimentos nos municípios no entorno dos pomares, reforçando o comércio e serviços locais”. Ele finaliza com a observação de que a própria cooperativa cresce, ao abrir oportunidades de trabalho no setor da laranja. “São vagas geradas especificamente para atender a demanda da cadeia produtiva da laranja. Enfim, a fruta cumpre um papel econômico e social completo”.

Qualidade testada

A indústria de sucos da Integrada tem um laboratório que analisa diariamente os teores de açúcar e de acidez da laranja recebida dos cooperados. Os equipamentos são operados por uma equipe capacitada a atestar a autenticidade e pureza do suco, que é exportado para os 5 continentes.

Rizzo informa que, mesmo com a falta de chuvas registrada em todo o Paraná, o volume recebido deve ser o mesmo de 2020, porém, a qualidade está melhor. “Diferente do que acontece nas lavouras sazonais, a falta de água nos pomares provoca uma espécie de reação de defesa na planta.  O resultado é uma florada que se converte em frutos mais doces e com a acidez ideal e, como consequência, um suco mais saboroso”.

Qualidade comprovada

A expertise da indústria de sucos da cooperativa passa não só pelo laboratório próprio da unidade. Vários processos estão validados por certificadoras nacionais e internacionais. “Temos reconhecimento do rigor com o qual conduzimos o processo industrial do recebimento até a expedição”, comemora a analista de controle de qualidade da indústria, Fernanda Zamariano.  

Analista de controle de qualidade da Indústria de Sucos, Fernanda Zamariano, “somos reconhecidos pelo rigor com o qual conduzimos o processo industrial do recebimento até a expedição”.

A profissional revelou, inclusive, que a indústria foi certificada para atender o mercado halal, voltado para o consumidor muçulmano. “Esse é um cliente altamente exigente nos processos produtivos que contrata, por isso estamos muito satisfeitos por atender essa demanda”, diz Fernanda.

Laranja na família

Muito se conhece da sucessão familiar no café, no gado e em outras atividades seculares. E, a Integrada tem, em Cornélio Procópio, também no norte paranaense, uma família com história de sucessão com pomares de laranja.

Quem responde pela atividade, hoje, é a agrônoma Ana Catarina Contin Gallerani. Ela é a terceira geração de citricultores. O avô, Waldemar Contin, começou a plantar a fruta muitos anos atrás, quando passou por dificuldades com a atividade leiteira. “Meu avô vendia leite nas casas, até que novas leis sanitárias da época limitaram a entrega in natura. Com a queda na renda, ele resolveu aproveitar uma área da propriedade para plantar laranja”, conta Ana.

Para surpresa do avô, hoje com 84 anos, o pomar frutificou com abundância. O tempo passou e o pai da Ana passou a dar suporte na administração da propriedade. A menina cresceu e tomou gosto pela vida no campo. Em 2016, formou-se em Agronomia e o sítio do avô, destino dos passeios na infância, passou a ser o local de trabalho. E, é o novo lar de toda a família.

Em 2018 surgiram novas propostas de cultivo para a laranja, como o sistema adensado. E, a citricultura passou de alternativa de renda a principal atividade da propriedade. O antigo pomar, com 5 mil plantas, foi refeito.

Agrônoma Ana Catarina Contin Gallerani, com o avô, Waldemar Contin, cooperados Integrada. “Agradeço ao meu avô por apostar na fruta. Para nós, o futuro está na estabilidade que a laranja proporciona”.

Hoje, são 10.500 plantas. E, mais 2 mil mudas estão em fase de plantio. “Até 2025 esperamos ter nossa área em plena produção”, prevê Ana Catarina.

Os Contin Gallerani têm a garantia de que a citricultura é a base da renda da família. “Agradeço ao meu avô por apostar na fruta. Para nós, o futuro está na estabilidade que a laranja proporciona”, conclui a agrônoma.